Será que estamos aqui para ter razão?
E quando o egoísmo do outro é a Mão da Vida a dar-te um belo empurrão para que sejas verdadeiramente Livre? Enquanto consciente coletivo, somos todos herdeiros de alguém que abdicou da sua Voz, alguém que se sacrificou, alguém que deixou de acreditar em si e nos seus dons, alguém que cedeu à pressão das circunstâncias e que acabou por transferir o seu poder pessoal para o outro, a quem depois veio a chamar de: o "egoísta"... A vida muitas vezes parece injusta, porém, se eu não uso nem sei como usar a minha Voz devidamente e quando o devo fazer, como posso apontar o dedo a alguém que não reconhece o meu valor? Para entender os movimentos das leis humanas dentro da memória colectiva de um modo pacífico, é necessária a redenção às Leis Cósmicas ... a redenção ao movimento justo do macrocosmos, caso contrário a roda da vida trar-nos-á de volta ao mesmo ponto de dor onde somos uma e outra vez - desvalorizados e até humilhados.
É possível contemplar a vida de várias perspectivas. Imaginemos um ponto dentro de um globo. Posso contemplar esse ponto dentro do globo, posso observar o ponto dentro do globo e ao microscópio. Eu posso também afastar-me até que deixo de ver o ponto e passo a ver apenas o globo, que por sua vez, à medida que me vou distanciando, deixa de ser um globo e passa a ser um ponto ...
Sendo a Existência Cósmica tão vasta e sendo o palco do Planeta Terra tão diverso pergunto: sobre uma mesma situação, quantas perspectivas podemos elaborar? E sendo que a perspectiva influencia o nosso discernimento pergunto também ... será possível alguém ter razão neste Planeta? Qual a perspectiva necessária para definir as leis e as ordens que melhor respeitam a nossa mais profunda Realidade enquanto indivíduos e enquanto colectivo(s)? São questões que uma vez respondidas acabam por resolver muitos conflitos externos e internos. Essencialmente, as questões que levanto são uma chave para identificarmos qual a fonte da nossa raiva! Uma vez identificada, a energia da raiva pode ser libertada dos nossos corpos e canalizada para a edificação da nossa Inteireza! Aquela que garante o nosso Lugar limpo e inquebrável. Quantos de nós não vivemos uma vida partida? Através da imposição de limites firmes com Amor, nada nem ninguém nos detém, pois estamos dentro do movimento da espiral. Mas se cairmos no erro de desenvolver uma narrativa de auto-piedade, canalizando a nossa energia para um agente agressor externo, a vida encarregar-se-á de nos impor quantos muros forem necessários até à mudança necessária para que entremos dentro da espiral, inteiros, livres e conscientes de que somos nós os criadores da nossa Realidade.
E isto traz-me a uma outra visão ... Mudar é Morrer e Nascer - Renascer. Hoje vi a palavra Amor de um modo diferente ... mostrou-se assim enquanto a escrevia -
A MORte.
É quase assustador ver estas duas palavras juntas. Mas foi isso que vi hoje. Que mensagem me quer dar a minha intuição ao dar-me a ver esta consonância entre Amor e Morte?
Ser magoada por alguém que amo e ser rejeitada, é um sinal de que há uma parte do meu Ser que ainda não tem a Vida que lhe é deVida! A rejeição é a proteção de Deus. Então, o tempo presenteia-me com acontecimentos que podem até ser traumatizantes, mas cujo Fim é O Novo Ar, um novo espaço para respirar! O Ar da minha mais pura Alegria - o Ar cuja corrente depende, por conseguinte, da libertação da minha mais profunda dor. Ante a dor, a persono condicionada pela memória(s) diz ... mas eu tenho razão! Todos os mecanismos para que a dor seja evitada são ativados, e talvez o mais impactante seja aquele que afirma - mas eu tenho razão! A razão sempre serve um sistema de valores intimamente ligado à sobrevivência de uma ideia impregnada na identidade da persona. Se essa ideia é colocada em causa, a nossa mente pode até nem aguentar a pressão de tal confronto, sucumbindo ao loop incessante de pensamentos que afectam o nosso sistema nervoso. A mente aprisionada vai repetir a mesma história vezes sem fim para que se sinta com razão, um loop que nos tira o sono e que quer evitar ao máximo a sua "morte". E se A MORte é o último recurso para que a Vida seja vivida na sua forma mais deVIDA? E se tudo o que nos acontece surge por virtude dessa espiral que apela ao nosso Ser mais puro - aquele que não tem apegos a ideias ...
Quando vejo a palavra Morte relacionada com o Amor, vejo-a de um modo metafórico ... um Fim, um Ponto Final numa história tão intensa que nos renovou até ao nível celular! Não falo de morte física nem coisa que se pareça. Falo da Mudança ... e é ao morrer que nascemos para a Vida Eterna. Será possível viver a vida eterna na Terra? Não é precisamente para lá que caminhamos todos?
Onde pretendo chegar com todas estas questões?
Hoje, ou nos rendemos ao movimento misterioso e todo poderoso da espiral da criação, ou ficamos presos na roda que nos traz inevitavelmente aos antigos, velhos e dolorosos lugares.
De uma perspectiva muito alargada da Vida, aquela que impregna o nosso dia-a-dia com um sentido de Missão, um sentido de que há algo Maior do que nós, a razão é uma interferência que pode sufocar o Espaço necessário da Mudança ... atrevo-me a dizer que na maioria das vezes, a razão tira-nos o Ar e é uma tremenda fonte de sofrimento! Há acontecimentos da vida em que partes de nós adormecidas são chamadas à Existência concreta ... partes que uma vez despertas, nos fazem revigorar o tecido do nosso Coração Sagrado, e de um modo miraculoso ... renascemos, e não sabemos como. Da mesma forma que nascemos do ventre da nossa Mãe, e não sabemos como foi possível (que inteligência opera todo o movimento biológico e sensitivo para que tal acontecimento seja possível dentro deste Planeta, desta Espiral cercada por outras incomensuráveis espirais?) ... mais uma vez, numa só vida terrena, temos a oportunidade de nascer, mas desta vez, por via do fogo da iluminação que nos diz: ... não estamos aqui para ter razão ... estamos aqui porque somos todos parte de uma só Espiral que se movimenta sem que tenhamos sequer a hipótese de a conceber através da nossa racionalidade. Podemos porém sentir a Criação, morrendo e nascendo para a Vida Eterna dentro do nosso Coração quantas vezes forem necessárias.
Ana Maria Pinto