Pensamentos para o Dia de Todos os Santos
Em dia de Todos os Santos estou imersa no estudo daquela Idade Média misteriosa que fundou o Reino de Portugal e abriu caminhos que nos moram nas células, quer o queiramos ou não. Passando o tempo de Gualdim Pais, chega-se a um outro absolutamente fascinante, aquele que antecede a vinda da Rainha Santa Isabel a Portugal, o tempo de São Francisco de Assis e de Joaquim de Fiore. E parece que quanto mais longe se vai, mais perto se chega... é o mesmo que seguir as palavras que se amam: Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a Deus.
Embora seja difícil distinguir entre lenda e realidade, a iniciação é sempre parte de qualquer Ser que tenha deixado uma marca na história como a deixou Santo António de Lisboa e de Pádua...e do mundo, que é do Mundo que o Santo que É Santo É. O que é a Iniciação? O grande momento que abre uma estrada. Por ela, estes Santos inspirados em São Francisco quiseram caminhar, Santo António e a Rainha Santa Isabel. Porquê?
Dia 4 de Outubro eu estava em Bragança, no Festival de Música ia cantar poemas de Fernando Pessoa, "O Poema Humano", como diz o Agostinho da Silva. Num pequeno passeio fui misteriosamente impelida a seguir um caminho que me levou até à imagem de São Francisco e simultaneamente recebo a informação que aquele é o seu dia...o arrepio... O que me quereria dizer aquele momento? A verdade é que desde então ando encantada com esta sensação que me ficou no coração, há algo que eu procuro porque há algo que me chama e esta não é uma procura nem cega nem perdida, não há movimentos na escassa luz, a Luz é tanta que parece que só estou a viver o que a Alma já vive e sabe.
Os Passos de Santo António seguiam os pressentimentos de novas palavras e formas dentro da Igreja, novos Eus a cumprir além de Santo Agostinho. Que Eus? Seja no café ou na mercearia da minha rua, lá está o Santo a guardar estes Eus que entregam à imagem a sua boa sorte. É curioso que Santo António parece ter trocado com São Francisco as "vestes" em Portugal, o grande Doutor da Igreja que maturou a Europa na conduta franciscana, é santo popular para tanta ocasião que até é casamenteiro, já São Francisco, esse amava a liberdade das palavras, queria-as soltas no céu como os pássaros, nos livros que as palavras servissem apenas o despojamento de tudo, absolutamente tudo ... uma tarefa tremendamente difícil esta! A de libertar o outro que o lê! (Isto é também um princípio de Magdalena em mim: que nenhuma forma pensamento te prenda, livre a memória, livre a palavra, ressuscitado o Verbo.)
Se há biografia de São Francisco que toca o coração é a de Agostinho da Silva, que como um homem do povo falava diretamente à alma para a inebriar e encher de espanto! As entrelinhas oferecem-nos a tão desejada Sabedoria que nos aproxima dos Santos! Quem é que quer ser Santo? Alguma vez São Francisco, Santo António ou Santa Isabel o quiseram? O que é um Santo?
É de facto uma graça ter encarnado neste momento no Planeta Terra, atravessei o milénio e tenho informação abundante para encontrar as respostas em pouquíssimo tempo lá fora e aceleradamente elas vão-se maturando no interior. A velocidade do nosso tempo é uma graça! Ter livros na mão desta maneira e saciar o coração com as palavras que lhe são amadas é uma benção! Então que diz o meu coração a esta pergunta, o que é Um Santo? No contexto religioso o Santo é muitas vezes aquele que, sofrendo, serviu de exemplo vivo ao outro. Noutras correntes fala-se de Mestres Ascencionadas, o Buda, Bodhisatva ... E sobre este Mestre, São Francisco, a verdade é que muito se fala das suas chagas, mas sobre isso Agostinho da Silva não fala na sua biografia, e eu digo hoje: que bem!
E o Fernando Martins (o nosso Santo António) que nos dizia, "onde pousar o olho, aí estará a mente", decidiu abandonar a terra natal, impressionado com os 5 mártires franciscanos em Marrocos, passou a louvar São Francisco com o saber que tinha colhido de Santo Agostinho. Abriu Caminho porque não lhe bastava o que já era dito, e eu diria que, qualquer Santo ou Santa é sempre alguém que veio do Futuro: "Santo António foi o primeiro grande viajante desta nação nascente, o primeiro português a afirmar-se como tal nas estradas do mundo, o primeiro de uma linhagem que nos séculos seguintes alcançaria os lugares mais remotos do planeta, e, curiosa ironia da História, levaria com ela o culto e a proteção do santo português" in Passos de Santo António.
E diz-nos Agostinho da Silva: "...sobre os homens melhores repousa um mundo melhor, o grande trabalho não está em destruir as instituições que se abatem por si, mas em fazer centelhar mais vivo o lume que se eleva para os céus; as más leis se desfazem e renovam, é o sangue que tem de circular cada vez mais ardente e mais rico, alargando e afinando o vaso que o conduz, o trabalho vital não é de oposição e de batalhas, mas de compreensão e de contínuo superar, de inteligência e de amor."
Até onde me levam estas palavras impressas? Em 2025 celebram-se 700 anos de peregrinação da Rainha Santa Isabel a Santiago de Compostela; "CORPUS, Tributo à Rainha Santa Isabel", é o nome da peça que lhe dedico na mais profunda gratidão. Esta Rainha Santa marca a minha vida como nenhum outro Santo, e ela, "Elisabella", era profundamente franciscana mas nunca abandonando os privilégios que o Seu Lugar lhe garantia. As suas ações são de uma inteligência extraordinária, inclusivé quando veste o hábito de Clarissa mas se mantém Soberana.
E neste dia de Todos os Santos pergunto, o que é o verdadeiro desapego de um Santo? A Renúncia? A Integridade?
Quantas galáxias existem no Universo? Perguntemos à nossa Imaginação! Lendas, Mitos, Factos, para que tudo isto serve dentro dum Coração Livre? Neste Dia de Todos os Santos, escrevo estas palavras, Ser Santo neste Milénio é ser como eram estes Santos no Passado: Ser no presente o Futuro.