Os mitos da história
"A verdade liberta-nos porque tem poder sobre nós: é ela que nos dá instruções, e não o contrário. No entanto, esta verdade absoluta, inacessível, que as nossas consciências podem conhecer mas nunca possuir, não pode, por definição, ser restringida por qualquer forma transitória da verdade. Logo, nenhum mortal pode jamais possuir a verdade. A ortodoxia - seja teísta ou ateia - torna-se fundamentalismo quando esta verdade essencial não é respeitada. O mundo sempre em mudança exige constantemente novas formas para a revelação da verdade. Outra palavra para essas formas é "cultura". A aniquilação da cultura significa aniquilação da verdade. E aniquilar a verdade é nada menos do que privar o indivíduo da sua dignidade." Rob Riemen. in "Nobreza de espírito"
Desde que terminei a novena ao Anjo de Portugal com um Concerto no Mosteiro da Batalha que mergulhei na história de Portugal, apercebendo-me naturalmente do meu grau de "inconsciência" no que diz respeito a muitos aspectos fundamentais sobre a nossa história, aspectos que fazem toda a diferença na contemplação do presente. A vontade de estudar não vem de uma obrigação como era no tempo da minha adolescência, vem antes de uma paixão que nasce da experiência - uma necessidade de saber de Si Mesmo dentro do mundo ... quem Sou Eu aqui neste contexto? Como me movo, como falo, qual a minha opinião autêntica, não influenciada por terceiros que possam usar a minha opinião para proveito próprio? ( não é óbvio que a nossa educação está virada ao contrário? É. O que fazer? Aqui em Portugal há sobretudo que exercer o dom da paciência.)
Esta sexta-feira entrei nas lojas que mais me apaixonam, as livrarias, e encontrei um livro que já devia ter encontrado antes: "As causas do atraso português" de Nuno Palma, um homem de 40 anos de idade que nos oferece linhas de uma nova vitalidade que eu considero verdadeiramente lusa. Ao ler as primeiras páginas surgiu-me de imediato o pensamento: "este homem é um Cavaleiro", só que em vez de espada usa a palavra. absolutamente notável! Antes de encontrar este livro e durante toda a semana assisti a vários documentários sobre a história de Portugal, incluindo as lições do H. Saraiva, e fiquei abismada comigo mesma, com o meu grau de desconhecimento -eu estava de facto engolida por MITOS DA HISTÓRIA! Um entre muitos - o brilho que dão ao Marquês de Pombal, na verdade um verdadeiro aniquilador da instrução em Portugal ... que dizer do que aprendi na escola? Miséria - propaganda que começou no terramoto e continua nos dias de hoje!
Em 2012 quando voltei a Portugal depois de 7 anos em Berlim outro terramoto acontecia, e eu juntei-me às vozes que queriam defender um "não-se-sabe-bem-o-quê-nem-como"; tanto que todo o movimento de manifestações desapareceu como D. Sebastião (cujo corpo afinal não desapareceu - mas fica bem na lenda), e eu arrumei o meu megafone e fui fazer terapia para me curar de tudo o que me tinha passado pelo corpo. Esta é a verdade: quando escrevi a palavra verdade no megafone, nunca mais peguei nele.
Quando comecei a cantar o Acordai apercebi-me que tinha que estudar, estudar muito e andava com os livros de história atrás de mim para poder ter raciocínio próprio. Foram muitos anos a lidar com uma mente invadida pelas complexas partituras da música erudita. O estudo da música clássica e a ideia da "carreira artística" que me tinham incutido na Universidade das Artes de Berlim fez da minha mente morada de legatos e notas sobreagudas e expectativas de um lugar no Teatro A ou B, o trabalho com o Maestro X e Y ... mas a minha mente ancorada num coração ávido de espírito não se deixou prender, e vitoriosa ignorou por completo o email do diretor do Teatro A que me ameaçava: "está a arruinar a sua carreira" e a professora com ataque de nervos a encostar o carro e a tomar calmantes ao saber que eu voltava para Portugal ... danke schön, aber nicht! A minha mente facilmente se libertou das parvoíces e chantagens emocionais de professores ou diretores focados no próprio umbigo. Assim é, lamento, mundo da música erudita, por vezes tão pequeno na escala da virtude. E disto, deste NEIN para dizer SIM a mim mesma, eu tenho verdadeiramente orgulho ... sou leal ao meu Coração, por muito que me queiram prender não o podem fazer - Eu Sou Portuguesa ... carago (também sou do norte).
Musicalmente falando, sempre senti que eu tinha a minha própria linha no legato, a minha própria maneira de cantar as palavras, por isso, fosse em Berlim ou em Portugal, também nunca disse Amén a instrutores de cantores sentados ao piano interessados apenas em dominar e usar a voz como uma corda do piano que se puxa a seu belo prazer. Obrigada mas não. A voz é minha e o legato também. Colaborar sim, estar à mercê do espanto-e-virtuosismo-da-sua-tão-bela-forma-e-inteligente-maneira-de-fazer-o-cantor-cantar-tão-bem - NÃO.
Andar nas ruas durante 9 meses e conhecer tanta gente de todo o tipo de ideologia, porque na rua um coro acolhe todo o tipo de vozes, falar tanto com o hacker mascarado como com o polícia de intervenção que distribuí bastonada, ultrapassou em colossal medida toda a instrução que tinha recebido na escola.
Um parêntesis: Estava eu em Berlim a estudar, quando recebo notificação da Segurança Social - dívida de 5000€ - ... como??? Não fazia ideia como aquilo me tinha acontecido, mas aconteceu! Tinha aberto a atividade para dar umas poucas aulas e nunca a fechei, sabia lá eu que era preciso fechar! Como eu há imensos casos demasiados! E pronto, o resultado serviu para encher mais um pouco os bolsos dos "alguéns" deste governo da linhagem do Marquês de Pombal ... será que saímos alguma vez dos escombros do terramoto? À vista está tudo muito bonitinho, mas entrem dentro dos edifícios e espreitem os programas - dá vontade de sair do país, e é isso o que fazem pessoas como o Nuno Palma.
Entrar no mercado de trabalho com o meu grau de ignorância, é a metáfora perfeita deste Portugal que entra na Europa com um 4º ano de escolaridade ... o resultado está à vista. Abstenção, ignorância e estagnação - "por minha culpa, minha tanta culpa".
Anos se passaram após a minha mediática passagem de megafone pelas tuas. Depois de fazer terapia e desenvolvimento espiritual à séria reconheço muitos porquês mas não a verdade inteira, como seria isso possível? Por isso, é sempre uma questão de tempo até aquele que se diz dono da verdade, ou tem no discurso "a minha verdade", se dar conta do tiro no pé que dá a si mesmo.
Unir pontos dispersos de uma só fonte é uma busca de muitas vidas, e sem dúvida que é esta a minha maior paixão, nunca foi só a música erudita, nem só a arte em geral, nem só a história, nem só a biologia, a minha grande paixão é o TODO. E atrevo-me a dizer que a Paixão no final de contas de todos é isso mesmo - o TODO. O problema da especialização é a perda de perspectiva! A técnica e o mergulho profundo numa só disciplina é sem dúvida fundamental - quando movida pela paixão e pelo dom - mas em si mesmo, o mergulho pode ser fatal! Afunilar a percepção da realidade no pequeno mundo laboral de cada um ou no pequeno mundo habitacional, etc ... é algo que amordaça, algo que retém energia, algo contrário às leis do universo.
Movimento! Mover a espiral, mover-se com o Todo sendo-se autêntico na sua cultura. É assim que eu vejo os Descobrimentos que se adrentam nos mares - um Movimento - não para reter em si o poder, mas para mover recursos! Aqui, eu vejo saúde, mas em toda a intenção que queira reter o poder de compra só para si está a aniquilação e daí o Nuno Palma nos ensinar que o grave problema de Portugal começa com o ouro vindo do Brasil e que hoje encontra metáfora nos fundos europeus.
Na altura do meu ativismo li outro livro apaixonadamente, pois apaixonada sou pela Poesia de Antero de Quental, (tanto que lhe dediquei um álbum musical "Anterianas" com música de Luís de Freitas Branco e Franz Schubert), as razões do Antero de Quental para o atraso dos povos peninsulares colocaram a religião católica num lugar muito obscuro na minha imaginação, o "pálido Cristo" que cantava, o "céu da consciência" era uma contínua ânsia sem resposta na alma de Antero de Quental e de facto Portugal estava naquele tempo imerso num movimento muito perigoso, que perdeu toda a força com Fátima. Impedir o exercício da Fé era lema vincado nos primórdios do séc. XX, mas eis que o povo, à sua maneira, não tem como deixar de ser fiel a si mesmo e ao que lhe corre no sangue. É esta temática - a cultura no seu mais amplo espectro que interessa descobrir! Não só a cultura do poeta ou filósofo, mas a cultura do fiel que segura um terço na mão com a mais pura - pura - devoção! De onde surge esta devoção, como é possível uma Alma se incendiar com uma oração?
E como unir estes pontos: Irmã Lúcia, Tony Judt, Rob Riemen, Hermano Saraiva, Kryon, Antero de Quental, Nuno Palma ... ? Uns dizem-se ateus, outros videntes ... onde está o ponto que liga estes tantos mundos? A história tem sem dúvida importantes respostas que não podemos de todo ignorar, mas o legado interior que está na célula - na inteligência inexplicável - é tão importante como as contas da história. Por isso - hoje - num mundo globalizado, amplo e acessível - é fundamental estudar e integrar! Não negar em absoluto o outro, mas estudar os fenómenos com inteligência e nobreza de espírito! Entender que a espiritualidade não se move apenas com religiões ou formas estabelecidas, move-se com virtudes e ensino de qualidade!
Nuno Palma diz em entrevistas e muito bem que é muito difícil mudar algo em Portugal, e que na verdade, ser-lhe-ia impossível fazer o trabalho que faz estando em Portugal. É atacado por várias frentes que discordam da sua visão, o que é natural, pois o seu livro pretende mesmo aniquilar qualquer tipo de propaganda ou mito!
Quando fui a África senti que encontrei lá algo de Mim, e sinto que isto é algo que acontece naturalmente em todos os seres sempre que visitam novos espaços, caso não estejam imersos em ideias pré-concebidas. Sendo-se singular na sua cultura, mas reconhecendo que o Humano tem uma capacidade extraordinária de se conectar com o Todo encontrando o Todo em Si! Que Mistério esplêndido levado pelos grandes místicos e navegadores portugueses!
Neste movimento que levou caravelas pelos mares, no São Teotónio e no Nuno Álvares Pereira, Na Rainha Santa Isabel, no Santo António, o instrutor da igreja - nos Jesuítas expulsos pelo Marquês - na inocência e traço pueril da irmã Lúcia - que Mistérios da Portugalidade estão aqui guardados?
O que nos tem a oferecer hoje o Convento de Cristo (outrora em parte propriedade do Costa Cabral, como é possível??...) como atender à Lei do Universo, ao Movimento? Como sobreviver humanamente e espiritualmente nesta sociedade tão centrada no poder de compra? Aliar a história e as contas ao dom natural de se ser singular e vital no ecossistema, entender as leis que estão tanto no corpo como na árvore como na estrela ... será possível integrar tudo e fazer mover a história?
É. É o que está a acontecer. E como te queres mover? A escolha é Tua! Graças de Deus ... ou não, depende da perspectiva. Chama-lhe energia, chama-lhe o que quiseres, aqui, és livre de o fazer, tenhamos consciência disso!
E agora, vou continuar a estudar.
Bom São João!