O Corpo que Treme
Imagens de um terramoto devastador movem-se dentro de mim fazendo o corpo chorar e comover-se com a tristeza de vidas humanas ceifadas ... e a alegria de outras vidas encontradas no meio de paredes empilhadas ... Perante tal tragédia há tanto que é movido dentro de nós! Emoções, sensações, ideias ... O abalo é coletivo e apela aos mais profundos sentimentos humanitários e ninguém fica indiferente a este lugar, onde todos somos chamados a ver, frente a frente, a morte, a fatalidade, a perda, a destruição total. Um trauma que fica tatuado na Alma de uma Comunidade para a vida toda, uma cicatriz que dói tanto ao contemplar! Esta é mais uma grande tragédia que fica retida na nossa memória coletiva.
Este, não é o primeiro terramoto devastador ... e como poderia ser o último?
E é esta questão que me leva a falar diretamente para o Corpo da Mãe Terra. Um Corpo Azul, de água, uma Vida, sensível e com expressões multifacetadas. Falo diretamente para este Corpo Vida que me acolhe, onde eu vivo, onde eu tenho a oportunidade de experienciar e manifestar simultaneamente a minha Existência humana, telúrica e cósmica. Como falar diretamente para este Corpo onde o meu corpo vive? É óbvio que o português é uma língua tremendamente limitada para desenvolver um diálogo com este Corpo Vida Mãe Terra ... como poderei falar-lhe para que me oiça? E mais ... como poderei ouvi-la? Mãe Terra ... porquê a devastação? Porque treme o Teu Corpo? Como entrar dentro do teu Campo Biológico e interpretar os sinais?
"E se .. a vida que vês e a imagem que projetas de ti mesma fosse apenas uma ínfima parte da tua Existência? E se ... o meu próprio Corpo Vida fosse apenas uma projeção deste coletivo que agora sofre como sofre desde há eras? E se ... o meu Corpo Vida que treme fosse o teu Corpo que treme? E se ... o micro e o macrocosmos fossem exatamente a mesma coisa ... pergunto-te, será que a tua visão não é condicionada pelos teus mais básicos sentidos? E se .. a nossa linguagem fosse capaz de transpor os véus que nos separam? E se conseguíssemos, eu e Tu, como Mãe e Filha, dialogar no mais perfeito Entendimento? Amada Filha, para que o nosso diálogo aconteça, não será necessário nos reconhecermos, uma à outra? Por isso pergunto-te ... já te perguntaste a ti mesma, quem és tu? Consegues responder a essa pergunta? E quem sou Eu? Consegues dizer-me Quem Eu Sou? Será que temos a capacidade de nos reconhecermos?"
És a Mãe Terra.
"Sim. Mas de onde surge a tua resposta? Sabes dizer-me?"
De uma evidência.
"Dizeres o que os outros te disseram, é uma evidência?"
...
"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a Deus Pai/Mãe." ... ecoam estas palavras por todo o Cosmos.
Perante a devastação tudo é relativizado, até as nossas mais puras intenções e evidências. O que se move dentro de nós quando projetamos para o exterior a imagem de nós mesmos? Que histórias são estas ... as que contamos sobre as nossas vidas, as nossas alegrias e as nossas tragédias? Pergunto-te, Mãe Terra, pois sinto que eu não te vejo na totalidade, mas parece-me ser óbvio que tu consegues ver-me melhor do que ninguém ... e sentes-me, sou parte de ti, do teu Corpo! O que fazer com o vazio que fica expresso no meio da devastação? Como interpretar este acontecimento?
"O Poder tem apenas a função de nutrir a relação que cada um tem consigo mesmo. O Poder não é relativo ao mundo externo, mas sim, ao mundo interno. A tua relação com o mundo externo só pode ser movida no Amor, apenas no Amor. O teu Poder não é sobre a Vida, nem sobre os outros, mas sim, perante ti mesma, perante a tua Verticalidade. Amada Filha, que a Alegria seja o motor da Tua Palavra, agora e sempre! Sentes esse Poder? O Grande Sol Central expresso nos teus olhos, um gesto do mais puro Sentimento que sabe dizer a palavra certa no momento certo e da maneira certa."
Mãe Terra, como nutrir a Alegria da minha Palavra no meio de tanta perda ... Mãe Terra, como nutrir o meu Poder interno se à minha volta tudo ruiu ... ?
"Insensatos ... quem fez o exterior, não é o mesmo que fez o interior?" ... ecoam estas palavras por todo o Cosmos.
"Amada Filha, ante a devastação olha na direção certa, distribuí o pão através da substância do Verbum, da Mãe Sabedoria! São estes os momentos em que o olhar interior pode dar a resposta certa ao Silêncio ... "
...
"Não existe esse Vazio!" diz a Mãe Terra. "O vazio que vês é uma interpretação tua, uma projeção da tua mente que acreditou em tudo o que viu e em tudo o que lhe disseram E se ... Amada Filha, conseguisses Ver-me, realmente Ver-me? E se ... Amada Filha, conseguisses ver com os teus olhos físicos as mais ínfimas partículas de que são feitos os meus elementos Água, Fogo, Ar e Terra. E se ... Amada Filha, conseguisses sentir o que é estar no meu Lugar? Como seria o teu Ver?"
Sim ... mas o que fazer no meio da devastação?
"Diz esta palavra - Misericórdia. Apela à Misericórdia do Coração Compassivo e Ela Chegará. Mas não do modo como esperas ... pois o teu Ver não conhece o meu Lugar. Por isso, apela apenas com o teu Coração. Sabes o que é o Coração? - Fecha os olhos, tapa os ouvidos e nada digas."
Diz a Mãe Terra - "Pergunto-te, Amada Filha ... estarei eu a Ouvir o teu Coração? Como não o ouvir e sentir ... se ele está dentro de Mim!? E eu dentro do Cosmos! O teu Corpo que treme é o meu Corpo que treme, o meu Corpo que treme é o teu Corpo que treme. Entendes onde quero chegar, Amada Filha? Nada vejas, nada oiças, nada digas ... Entrega-te e estarás no meu Lugar da Água Vívida - Eu Sou a Estrela da Liberdade e que saibas, dentro de mim, nada fica preso, tudo se liberta!"
...
Diz a Mãe Terra - "E agora que fechaste os olhos, tapaste os ouvidos e estás em silêncio ... Vê quantos Anjos habitam o meu Céu Etérico, o meu Mar, vê como encontras aqui a nova Vida para além da Vida ... não consegues ver!?"
Não. Mas, agora que tapei os ouvidos, os olhos e fiquei em silêncio .. sinto.
"Eu também sinto, e Vejo. E aqui, para que te libertes da imagem da devastação e da imagem que projetas de ti mesma na devastação, só te resta confiar em Mim. Sabes o que é o Paraíso na Terra? ... A Absoluta Confiança. Confia em Ti!"
E perante a devastação, o meu Coração treme, os meus olhos choram, os ouvidos escutam o vento por entre o pó que cobre os corpo mortos ... olho o Céu Azul, e digo ... Mãe Misericódia, a Ti me entrego, em Ti Confio! Guia os meus passos, as minha palavras, seja Eu o mais puro reflexo do teu Céu Azul! Em mim sinto a Humanidade!
Gratidão Mãe Terra!