O caminho para a Paz
O mundo é, entre muitas outras coisas, um palco para CONFLITOS. E porque o é desde que se narra a história, gostava de vos falar de Mãe Maria. Hoje, em 2023, passados mais de 100 anos da sua aparição em Fátima, falo não a partir do dogma nem da história escrita nem do que me contaram. Falo a partir da minha experiência de vida. Em Berlim, durante os 7 anos que lá estive, vivi cerca de dois anos e meio na Nollendorfplatz, o meu local preferido naquela cidade simbólica, museu ao ar livre.
Em Agosto de 2023 revisitei os lugares onde vivi, inclusivé o meu preferido, e entrei na igreja daquela praça, coisa que nunca tinha feito durante todo o tempo que lá vivi. Ao entrar vejo logo à entrada a imagem de Nossa Senhora de Fátima, branca e linda, e mesmo em frente na penumbra, na sombra escura, uma mulher de joelhos em pranto, um pranto que ecoava pela igreja. Foi curioso entrar naquela igreja em 2023 e não antes, nessa mesma noite tinha tido um sonho que veio a realizar-se semanas a seguir na Rota Mariana de Magdala - Sacred Voices, intimamente ligado ao que estava num dos altares daquele templo: OLEUM LETITIE - o óleo da felicidade. Era terça-feira, dia da semana em que nasci e quase morri também. O meu parto foi difícil e tive outros momentos na minha vida em que a morte espreitou na rua, por duas vezes milagrosamente não fui atropelada por um autocarro. Não preciso que ninguém me diga que foi a mão de Maria o meu amparo de Vida, todo o meu Corpo é disso evidência, e se o digo não é para que fique registado como dogma num livro, antes para que seja entregue ao vento e nada mais do que isso.
Em Berlim a primeira imagem que se mostrou em 2004 foi o telhado destruído de uma igreja, onde anos mais tarde viria a acontecer um atentado. Aquele telhado era como que uma referência para mim naquela cidade. Numa terça-feira de Agosto de 2023 vi Fátima em Berlim e na sexta da mesma semana vi um filme sobre a criação da bomba atómica. Quando saí reparei que o cinema era mesmo ao lado o meu local de referência, o memorial era um aviso. Olhei para o céu azul e percebi o quão frágeis nós somos perante o medo, não se coloca em causa a destruição da atmosfera ... antes ter Poder sobre o outro do que morrer a humanidade inteira. Isto é impressionante e inenarrável.
Em 1917 surge o apelo à oração, e um consciente colectivo transforma-se em âncora da fé mariana ... invenção ou não, facto é que me desfez em lágrimas aquele dia em que Fátima e a Guerra se fundiram na minha percepção da Terra. Uma sensação de "foi por um triz..." olhando o telhado desfeito da igreja, foi evidência nos meus próprios ossos, matéria de linhagens dentro de linhagens terrenas que vivenciaram tantos conflitos. Curioso é que quando me contaram a história de Fátima ninguém me disse que o propósito da aparição era a Oração. Rezai. Rezai. Rezai.
Hoje, o mais importante não é o que diz o padre ou o cientista, é dentro de mim que a sensação se torna evidência, se estudo é sobretudo para pensar por minha própria cabeça. Segurar bandeiras às cegas ou punhos erguidos de revolta só alarga e perpetua o conflito. Ante as duas frentes de guerra o lugar que escolho é o das leis cósmicas - o meu próprio Sentido. Como o descobri? Rezando o terço, cantando mantras hindus e budistas, cantatas de Bach e Missas de Mozart, dançando danças africanas e segurando o meu tambor xamânico.
Em 2010 terminei o meu Mestrado na UdK Berlin - Gesang / Musiktheater com a interpretação de Blanche de La Force da ópera de Francis Poulenc "Os Diálogo das Carmelitas". Antes de entrar em palco a minha professora Dagmar Schellenberger ofereceu-me o que viria a ser, anos mais tarde, o maior tesouro de todos para mim: um terço azul que lhe tinha sido oferecido por uma Carmelita. Cantei a Blanche de La Force - um ser sensível que procurou refúgio na oração para se libertar dos seus medos. No final da ópera que narra uma história verídica, Blanche entrega-se ao Salve Regina de outras Carmelitas, acabando por ser mais uma mártire da Revolução Francesa. Anos mais tarde segurei meses a fio aquele terço, não no palco, mas na vida real ... e encontrei Maria, não no templo mas no Mar de Iemanjá. O que despertou Maria em mim foi o Mar. Vi-a a aproximar-se porque chamei o seu Nome a partir da minha mais sombria natureza - o medo. Ela tocou-me porque me fundi com os elementos da minha natureza - água, fogo, ar e terra.
Foi no Corpo que ela abriu o seu Canto, no Corpo que treme e que se liberta. Aquele terço azul ganhou substância salgada e foi porque me deixei beijar pelas ondas que Maria deu à Luz um novo Eu. O que ficou para trás foi uma mente presa à imaginação distorcida, essa que se deixa amarrar pelos modos que os humanos inventam para se sentirem vivos. - os estímulos do horror, do terror, das imagens assustadoras. Para se sentirem vivos, os humanos, inventam o terror, a morte e espectros que carregam às costas todos os mortos. Edificação das suas bandeiras, com orgulho, esquecem-se que a Guerra é cicatriz intemporal, atravessa gerações. Com orgulho constroem-se muros e esquecem-se os traumas. O trauma de guerra, o veterano, assim como o marinheiro que morreu no mar, o que Ele representa em nós, nunca chegou a tocar a verdadeira cura. Quantos homens moribundos chamaram por suas mães nos campos de Batalha, morrendo sem lhes sentir o toque? Quantos veteranos não guardam em si memórias de horror inenarrável? E apesar de tantas mães chorarem os seus filhos aos pés de Maria, insiste-se em dar dureza ao muro em vez de chorar, para que a água Corpo seja Rio - o Rio da Paz da Libertação dos Traumas.
Hoje, muitos humanos, ainda são bandeiras, mas amanhã é certo que serão apenas humanos. Não é só a minha fé que o diz, é a evidência do movimento da espiral, da lei cósmica na Via Láctea, em Andrómeda, nas Pleiades e no Sol. O mar contou-me histórias que vão além da Terra. A água deste Mar guarda memórias que não são só daqui, o Mar reflecte a Luz das Estrelas. Na nossa ancestralidade, povos evoluídos falavam com as estrelas, com a inteligência divina, não a partir da tecnologia exterior, mas a partir da interior. Sabiam que dentro de si tinham a mais que perfeita nave que colocava em perspectiva o palco de conflitos. E por isso é que se deve ensinar que antes de sermos filhos da Terra, somos filhos das Estrelas ... além tempo, além espaço. Há que dar a ver o firmamento de estrelas. Não somos só isto que está aqui à vista, olha para cima ... o que morará ali? Colocar questões antes de assumir certezas é o que as novas gerações trazem. O movimento da espiral é uma evidência, desengane-se o que diz que isto está pior do que nunca.
O mar contou-me muitos outros segredos que guardo como virtudes da Criação, o Mar deu-me tanto que eu só me posso doar com a minha própria Vida, sabendo-a Eterna. Ficar refém da morte é condição que abandonei ao ouvir mestres e gente da terra, no Corpo Humano Maria ensinou-me a ver o Portal. E só o desvelei porque também vi Kuan Yin, símbolo de Compaixão que nos chega do Oriente. Ocidente e Oriente fundiram-se em mim como que por magia ou milagre porque nasci em 1981, numa Terra de liberdade onde tenho asas. Terra de gente simples que dentro do que pode fazer, faz tanta coisa bem feita, digam o que disserem. Corruptos há em todo o lado.
Hoje, em 2023 o mundo está dividido, uns dum lado e outros do outro porque poucos se sabem filhos das Estrelas. Poucos, mas muitos, sabem que esta Terra é um palco de conflitos para que a consciência ganha pela experiência os finde. O que poderá um dia findar o conflito é em primeiro lugar o findar da ilusão da morte. O findar do céu e do inferno, o findar do dogma sendo substituído pelo Poder Interno, esse que não se deixa enganar ou levar por contos e ditos.
Não é à toa que vivemos uma guerra de informação ... queres saber a verdade? Procura-a dentro! Se não pensas e sentes por tua própria cabeça, com pensamento crítico, e se não sentes a Paz dentro do próprio Corpo - porque ainda vives o trauma - vais sempre querer pisar o chão de uma das frentes da guerra. É o teu inconsciente que o pede, aquele que está em guerra. É isto, é simples mas difícil.
Não encontrei Maria em mim porque nasci na Terra de Fátima, encontrei-a porque me encontrei além da bandeira ... encontrei-a no ensinamento do índio, do Gautama, do guru e da própria ouvinte que sou. Encontrei-a na Europa e em África, essa Bondade mais que Bondade que tudo incluí! Como portuguesa que sou, hoje em 2023, tenho a benção de me dizer do mundo e da Estrela, e isso só posso agradecer a mim mesma, que não me deixei acorrentar pelos meandros do medo e da incerteza.
Perante o conflito eu digo Maria, o mesmo que dizer Paz. Perante o conflito eu digo Michael, o mesmo que dizer Lei Cósmica. No fim da Rota Mariana, em Fátima, já sozinha, descobri que naquele santuário está um pedaço do muro de Berlim. O que o Deus Tempo me ensina é que a repetição é a condição da roda ensimesmada. Outrora o muro caiu e abriu um Caminho para a Luz. Hoje outros muros irão cair, é só uma questão de tempo.
Paz e Sabedoria aos líderes do mundo, Paz e Sabedoria a todos os seres da Terra! Caminhemos!