Meditações nos Valinhos

04-01-2025

"A dor é por dentro; mas Isabel via o seu "dentro" como uma largura alegre, e Deus arranjava ali tudo com a mesma substância sossegada, uma matéria que as lágrimas não tinham ânimo de desgastar."in Isabel de Aragão, Rainha Santa. Vitorino Nemésio.

Este ano nasceram os Cânticos ao Sol, a Devoção à Singularidade, estreados em palco a 6 de Dezembro. Estes dias festivos assim têm sido no céu, a cada dia que passa o azul parece ter a impressão do infinito de tão azul que tem estado, e parece quase possível mergulhar nele como se mergulha no mar, a força da gravidade mal consegue segurar a alma com os olhos tão cheios de céu! As cores vivas e os sons ganham com este brilho o imaginado Paraíso ... tenhamos olhos para ver! Ontem e após tantos eventos, finalmente tive tempo para continuar a minha dedicada leitura, e terminada a obra de arte de Vitorino Nemésio foram poucos os momentos até ter bilhete de ida e volta para Fátima. Havia ainda um Cântico ao Sol a experimentar neste antepenúltimo dia de 2024.

O estudo da história ensina-nos a ter olhos para ver e ouvidos para ouvir, não para que a história se prenda a ideias, mas para que se liberte por dentro e ganhe fôlego para rasgar o tempo criado ... Sim, porque os homens criam tempo e muitas vezes ficam nele retidos de dia para dia, semana para semana, mês para mês, ano para ano... de era em era... 

Para que a Canção se renove de era em era é preciso orar sobre os passos do tempo, e orando, traçar o Caminho com a largura do presente e ver-lhe o semblante a partir de dentro ... o tal "dentro". Valinhos tem 15 estações na sua Via Sacra, sendo a última a da Ressurreição. Numa delas Verónica cria o Imaginário do Seu Rosto, olhos de uma "largura alegre..." olhos de uma "largura dolente..." olhos que veem como mais ninguém vê ... 

Redescobrir este Olhar, o que tem "olhos para ver e vê" ... não a partir do ponto acrescentado ao conto, mas a partir da História que rebenta no coração como onda de Mar. Um instante que desmembra o tempo por "dentro" e traz-te o Coração para fora do peito...o teu Corpo é trespassado por um Sentimento maior que tu e nada há mais verdadeiro que aquele Abalo ... de repente não és só Corpo, és Alma e és uma convulsão do próprio Tempo que se mostra Retumbante aí "dentro" ... Há momentos assim e todos nós o sabemos. Íntimos ou coletivos, há momentos que te mostram a Verdade e a tua força não é suficiente para negá-la, daí o Abalo... daí o Rasgo, daí o Fim, daí a Morte ... daí a Vida ... daí o Símbolo. 

Os muitos que ali se prendem são os muitos que ali se soltam porque a um Símbolo não há como tirar a Liberdade e a Inteligência da Mente Universal. O que para uns é dor para outros é indolor, Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás a Deus ... um enigma? Não. A Verdade de um Homem cujo nascimento é motivo de festa e cuja Inteira Vida é criada à semelhança do homem, sendo que homem Ele era apenas em parte. Rasga-se a folha do Tempo, escreve-se o Livro da Vida.